segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

QUANTOS LADOS TEM UM HUMANO?


No circuito da administração e negócios, avistamos placas lembrando do lado humano de qualquer coisa. Da empresa, do trabalho, da qualidade, da qualidade de vida, da negociação, da comunicação, da remuneração e até das pessoas!
Enquanto aguardo o lado humano dos direitos humanos, surge a questão: quantos lados tem um humano?

Em tempos partidários, os lados são muitos. Muitos mudam de lado. E você, cara pálida, de que lado está? Mas insisto na pergunta: quantos lados tem um humano?

Sou tentado a responder “dois lados: o de dentro e o de fora”. Mas é uma resposta longe da sublimação pretendida, tipo sentido da vida, até por me faze lembrar de outro sentido da vida (Meaning of Life, do Monty Python) e de A Comilança, de Marco Ferreri. Gosto de ambos os filmes mas não acho que as cenas escatológicas traduzam completamente o nosso lado de dentro. A frase “ o homem é aquilo que come” foge do entendimento literal e clama por metáforas e analogias.

A analogia que me ocorre com a questão ao lado, não para deixá-la de lado, é com a geometria.

A geometria tradicional – chamada euclidiana, devido aos axiomas de Euclides, na obra Elementos - é o ramo da matemática que se refere às propriedades dos pontos (de vendas?), linhas (de produtos?), sólidos (conhecimentos?) e superficiais (áreas?), e à maneira pela qual eles se relacionam uns com os outros. Assim, a geometria se preocupa com as noções de comprimento (tamanho de sala e mesa ainda é documento), ângulo (de uma maneira de ver as coisas), paralelismo (gerentes e equipes que nunca se encontram), perpendicularidade (você em pé, parado, esperando ser chamado para a reunião), similaridade (que derruba a política de diversidade), congruência (tá rindo de quê?), área (de trabalho), volume (de vendas), razão (a empresa tem razões que os próprios empregados desconhecem) e proporção (enquanto mais se trabalha... mais se trabalha).

Os pensadores renascentistas viam uma certa perfeição matemática na forma humana. Leonardo da Vinci (1452 – 1519), gênio do Renascimento, era pintor, cientista, anatomista, engenheiro, matemático, escritor, músico, naturalista, filósofo, escultor e ainda arquiteto, embora a construção o tivesse interessado menos que os problemas básicos do traçado e da estrutura.
     Durante o apogeu do Renascimento, Da Vinci, o anatomista, preocupou-se com os sistemas internos do corpo humano. Da Vinci, o artista, interessou-se pelos detalhes externos da forma humana, estudando exaustivamente as suas proporções. O Homem de Vetruvio, que resulta desses interesses, é a imagem que representa o corpo humano inserido na forma ideal do círculo e nas proporções do quadrado. A imagem foi usada pelo matemático Luca Pacioli na ilustração de sua obra De Divina Proportione.

Estamos cientes de nossas proporções? Sabemos qual é o nosso raio de ação? Nosso alcance? Espero ainda que não tenhamos desaprendido a calcular a altura de um homem. Como temos calculado nossa própria altura: pelo que temos ou pelo que somos? Pela existência ou pela essência? Alteza, título honorífico de reis, inicialmente, e depois apenas de príncipes, é também sinônimo de altura. Ter alteza é saber que a verdadeira nobreza é nossa elevação moral.

Da Vinci tinha grande admiração pela matemática (“Não existe certamente nada em que as ciências matemáticas não possam ser aplicadas”) e dizia que o artista deveria ser um bom conhecedor da perspectiva. Precisamos como nunca de perspectivas.

* Texto de Luis Adonis Correia - autor dos livros Quem Roeu a Roupa do Rei e Um observador Nunca Está à Paisana.

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