domingo, 3 de fevereiro de 2013

LEMBRANÇAS...NEM SEMPRE TÃO VIVAS - I

Há exatamente um ano que não escrevo no meu blog. Hoje volto. Não é necessário dizer que muitas coisas aconteceram. 2012 foi um ano especial. E agora, em 2013, retorno e coloco aqui um pouco do que senti ao retornar, em janeiro, à cidade de Viçosa do Ceará, terra do meu pai, dos meus avós paternos. Foram mais de 20 anos sem retorno àquela cidade no alto da serra de Ibiapaba. Vivi muito pouco tempo por lá. Minha mãe veio residir em Fortaleza onde já estudavam minhas irmãs e irmão. Assim, são dois retornos: aqui para o Blog e outro à cidade onde viveram meus pais e parentes. Retornos...

A viagem para Viçosa foi em um ônibus. Fomos eu e minha irmã. Ela, cheia de recordações e em sua mente, muitas pessoas para rever, muitos lugares para revisitar. Eu, sem quase nenhuma recordação. Pouquíssimas. No trajeto, ia tentando resgatar alguma coisa. Sempre achei estranho não ter uma memória da minha infância. Até meus cinco anos, minhas lembranças são vagas. Diferente de minhas irmãs e irmão que lembram de detalhes do tempo em que eram crianças. Suas recordações são povoadas de férias com primos, de carinhos de avós, de brincadeiras, travessuras... Enfim, de tempos felizes. 

No trajeto, eu ia mexendo na caixinha da memória para ver que surpresas viriam... Sentei-me na janela do ônibus e ia olhando a paisagem. Vi muita aridez, muita terra a espera da chuva, muita pobreza nas casas simples que me trazem um quê de poesia. Entre os fragmentos da memória, veio uma sala da casa onde morei. Uma espécie de jardim interno, com portas de vidros e madeiras. Lembrei do frescor do jardim, das flores amarelas que meu pai gostava. Lembrei das Dálias brancas e quase senti seu perfume. Só isso. Lembrei-me que era uma menina só. Não lembrei de brincadeiras com ninguém... 

Lembrei-me que tive uma segunda volta àquela pequena cidade, não sei em que ano. Não menos de 20 anos. Tempo em que vi meu tio morrer. Ele estava com câncer. Morreu rodeado por irmãos e lembro-me das vozes em orações por toda a casa grande de meus avós. Era uma casa linda e cheia de segredos. No quarto da minha avó, que já tinha partido há muito tempo, ainda estavam os móveis, seus frascos de perfume quase sem cheiro e sua cama bem arrumada.

Bom, as lembranças também me trouxeram as névoas das noites frias da serra que impediam uma visão clara do que se passava na praça em frente, nas ruas. O frio era forte. Só isso. Nenhuma outra. As lembranças não são sempre vivas, por alguma razão.

Diferente de minha irmã. Eu permanecia calada até chegarmos... E aí, quando o ônibus parou ao final de quase sete horas de viagem, nos demos conta de que era ali que começava o retorno.

Estranho como sentimos o quanto mudamos quando chegamos a um lugar que ficou distante de nossas vidas...




2 comentários:

  1. Fátima, você retoma o seu BLOG com uma dupla viagem. Uma à cidade e outra, mais fantástica, à infância. Parabéns! bj ana

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  2. Obrigada, Ana! Agradeço também à Edna Arruda! Vocês me inspiram! Grande abraço!

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